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Um puerpério líquido


11/abr/2023 | Anielle Casagrande |

Quando eu ainda estava grávida, alguém me avisou que tudo no puerpério escorria. Fiquei pensando que maluquice era essa, até meu bebê nascer e eu entender perfeitamente. No puerpério a mãe fica praticamente em estado líquido, de tanta coisa escorrendo pelo corpo. 

Primeiro, ninguém me avisou sobre a quantidade de sangue que escorre. Precisei usar fraldas por dias e dias, porque mesmo tendo feito uma cesariana, tem muitos líquidos que o corpo precisa eliminar após um parto. A cada troca de fralda, uma lembrança do meu parto e das dores da cesariana.

Segundo, acho que nunca chorei tanto na vida. Virar mãe é trabalho pesado desde os primeiros minutos. Chorei de medo, chorei de dor, chorei de desespero, chorei de solidão. Chorei ouvindo A casa é sua, do Arnaldo Antunes, com o bebê nos braços finalmente. Chorei por estar comendo granola em pé de novo e de novo. Chorei porque o bebê chorou. Olha, eu parecia uma cachoeira humana e sorte que meu marido não é muito de fotografar, porque essa não é uma imagem que eu quero guardar de lembrança.

Terceiro, ninguém me avisou que ia ter tanto leite escorrendo dia e noite. Logo após o leite descer, lá estava eu encharcada, e assim fiquei por muitos meses. Aliás, escrevo isso com a roupa banhada em leite, dois anos e 4 meses depois. No puerpério o leite ia descendo pelo corpo todo até os pés, mais que o normal, porque tenho hiperlactação. Cansei de me sentir úmida, suja e pegajosa muitas vezes por dia, até me adaptar bem aos absorventes de tecido. 

Foi no passar dos dias que as coisas foram se acalmando, o sangue acabou, as lágrimas diminuíram, o leite foi se ajustando à fome do bebê. E foi assim que eu saí do estado líquido e aos poucos fui retomando o controle sobre a minha vida. Granola, agora, só de vez em quando.


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