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Eu chamo de desconforto


22/ago/2023 | Anielle Casagrande |

Esses dias dei uma entrevista sobre como era ser autista grau dois e expliquei que basicamente eu sinto que todos os meus sentidos são muito bagunçados e sensíveis. Da mesma forma que também tenho problemas com as sensações corporais. Demoro para perceber que estou com fome, ou explodindo de vontade de fazer xixi, ou que estou desconfortável por qualquer outro motivo. Sou capaz de passar 2h desconfortável no mercado e ter picos de irritação para só perceber depois já no carro que a luz estava muito forte. Da mesma forma, demoro para perceber frio e calor. 

Isso tudo me deixa bem reflexiva sobre os bebês, suas sensações e sua fala. Meu filho nunca me disse que estava com frio. Além de não saber falar isso, desconfio que, por ser tão novo, ele não é capaz ainda de identificar essa sensação. Mesmo quando eu pergunto se ele está com frio, a resposta é sempre não. Mesma coisa com fome, sono, calor. Ele ainda está aprendendo sobre suas sensações!

Muitas vezes quando ele está irritado eu pareço uma detetive analisando e imaginando o que pode ser: uma dor de garganta ou ouvido? Um pé torcido? Um torcicolo? Um dente nascendo? Frio? Calor? Calafrio? Uma meia fugindo do pé? Uma pedra no sapato? Uma etiqueta coçando? Uma fralda torta? Uma picada de mosquito escondida no pescoço? Sono? Fome? Cansaço? O que chamam de manha, eu chamo de desconforto. 

Tudo isso que listei acima é invisível e causa bastante irritação. Agora pense na mini pessoa que não conhece toda essa variedade de sensações e não sabe nomeá-las. Ser autista com certeza me faz ter mais empatia pelos bebês, e também uma paciência descomunal. 


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