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Enquanto os outros fazem natação


26/ago/2023 | Anielle Casagrande |

Na mesma semana que marquei terapia ocupacional para meu filho, ouvi outros pais na saída da escola falando que iam levar seus filhos para a natação. Aquilo me deixou tão chateada. Eu também queria levar meu filho pra natação depois da aula, mas olha só, estou gastando o dinheiro que nem tenho para pagar suas terapias. Claro que não comentei nada, mas naquela hora senti muita coisa. E nem é apenas sobre dinheiro, e sim sobre como somos diferentes.

Isso me lembra quando levei ele em consultas com psiquiatra e neuropediatra para avaliar se ele é autista. Enquanto as pessoas vão ao shopping, viajam, leem livros, eu levo meu bebê para ser avaliado por uma estranha (para mim e para ele é sim uma estranha) para ver quão “fora do padrão” e “esquisito” ele é. Estou sendo bem literal sobre minhas emoções: foi assim que eu senti, mesmo respeitando o trabalho das médicas e entendendo que a intervenção precoce é a melhor coisa que podemos fazer para uma criança “em risco de autismo”. Muitas aspas neste parágrafo, entendam. 

Deve ser maravilhoso não precisar passar por nada disso. Confesso que acaba comigo. Além de ter que encarar de frente que meu filho pode ser diferente dos outros, deficiente e pode passar na vida por tudo que eu mesma passei, ainda carrego a culpa de ter transmitido isso pra ele com meus genes. Eu preferia mesmo era uma vida normal, em que ele vai pra escola, depois para natação. Consulta no médico? Só pra medir e pesar e ouvir que ele está ótimo. 

Não seria mais fácil simplesmente matricular ele logo na natação e nada de terapia? Ou parar de levar na psiquiatra e trocar por uma ida ao teatro? De jeito nenhum. Entendam: a intervenção precoce é maravilhosa e tem o poder de permitir mais qualidade de vida para ele, autista ou não. Mesmo assim, claro que eu, como mãe preocupada e atenta, estou com (vários) pés atrás. Vou levá-lo pela primeira vez depois de amanhã e pedirei para entrar junto.

Espero voltar aqui em dois dias para contar que foi ótimo, e daqui uns meses para dizer que ele está se desenvolvendo bem. Lá vamos nós. Eu estou tão assustada. 


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