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Nebraska


19/fev/2014 | Anielle Casagrande | # #

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“Eu nunca soube que este filho da mãe sequer queria ser um milionário! Ele devia ter pensado nisso anos atrás e trabalhado para isto!”
Quando comecei a ver este filme, ele não chamou minha atenção de primeira. Achei interessante ser todo preto-e-branco, mas só fui fisgada mesmo quando percebi qual seria a temática. O filme trata de um velhinho que decide ir de Billings (Montana) até Lincoln (Nebraska) pegar um milhão de dólares, que ele acredita ter ganho após receber uma carta avisando. Proibido de dirigir pelos filhos, ele simplesmente sai de casa a pé. Logo é encontrado e retorna para sua casa, de onde sai novamente no dia seguinte. Obcecado pela ideia de receber seu dinheiro, ele convence um de seus filhos a faltar no trabalho e ir com ele até lá.

O lindo deste filme é que ele é muito sutil, suave e doce. Isto mesmo: um doce de filme. Ao mesmo tempo que percebemos toda a problemática da velhice, com suas crises e tédios, somos agraciados com cenas cheias de humanidade. Mesmo percebendo que o pai está meio “confuso” (foi a melhor palavra para descrevê-lo, juro) o filho decide acompanhá-lo nesta aventura. Por mais que ele esteja bem velhinho e mais teimoso do que nunca, ele nunca deixou de ser uma pessoa de bom coração e por isso até um bocado ingênuo. Os dois aproveitam para conversar, tomar cervejas, relembrar o passado e visitar alguns parentes. Até fazer xixi juntos na beira da estrada eles fazem. O filho é de uma cumplicidade singular e cativante! Às vezes ele perde a cabeça, mas em geral ele tenta manter a calma e entender o pai, por mais difícil que seja.

No meio desta loucura toda, conhecemos melhor a família deste idoso. Sua mulher é mais pé no chão e já está de saco cheio de suas loucuras, mas segue ao seu lado. Esta por sinal é uma personagem a parte. Uma velhinha que talvez até sirva no estereotipo de avó que recebe os netos com um bolo no domingo, mas ao mesmo tempo fala tudo que pensa e gosta de soltar frases ácidas. É ela, inclusive, que vai ao cemitério e fica fazendo piadas sobre a morte. Ao mesmo tempo que estão juntos há décadas, os dois compreendem que casamentos longos não são mais tao emocionantes. Em algumas cenas o homem desabafa para o filho sobre porque casaram, porque tiveram filhos e porque não se divorciaram, deixando claro que ela que decide a maioria das coisas. O homem apenas concorda para deixá-la feliz, já que para ele tanto faz.

A maioria dos personagens do filme são idosos. Em sua grande maioria, são os habitantes de uma cidadezinha por onde os personagens principais passam para buscar o tal prêmio. Todos são visivelmente afetados pela noticia do prêmio, sem perceber os avisos do filho de que o prêmio é na verdade falso. Alguns passam a admirar o velhinho, enquanto outros decidem que precisam arrancar algum dinheiro dele de qualquer jeito. Falando nisso, há algumas cenas na casa de uns familiares. O tédio parece tomar conta destas cenas e percebemos que simplesmente não há assunto entre os primos, que ficaram anos sem se ver. “Quanto tempo demorou a viagem?” e “Puxa, está difícil arrumar um bom emprego” parecem ser os únicos temas. Além disso, uma coisa que me chocou foi quando o irmão do velhinho, que tem dois filhos gordos que não fazem nada além de ficarem sentados frente a uma TV, diz que tem orgulho dele por ele ter ganho este dinheiro todo. Um pouco distorcidos os valores desta família. Uma pessoa que ganha muito dinheiro sem ter trabalhado ou feito absolutamente nada merece o orgulho alheio?

Recheado de cenas tão bregas que causam estranhamento, este filme está aí para nos falar mais sobre este universo que ainda não conhecemos muito bem e é pouco abordado no cinema. O universo dos que tem muito mais anos que nós, com menos planos e objetivos, mas mesmo assim ainda não perderam a vontade de cuidar de seus descendentes. Para fechar, no final do filme há belas cenas que evidenciam ainda mais a compaixão, carinho e respeito que é necessário ter com nossos idosos, por mais irritantes, confusos ou ultrapassados que eles possam estar! Um doce de filme com um doce de final. Recomendo para TODOS!

– Ele tem Alzheimer?
– Não, ele apenas acredita no que as pessoas falam para ele.
– Que pena…

Nome: Nebraska (IMDB)
Gênero: Drama e aventura. Duração: 115 min.
País: EUA. Lançamento: 2013.
Diretor: Alexander Payne. Roteirista: Bob Nelson.
Elenco: Bruce Dern, Will Forte, June Squibb.

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