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Mary and Max


31/mar/2014 | Anielle Casagrande | # # #

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“O motivo porque te perdoo é que você não é perfeita. Você é imperfeita igual a mim. Todos os seres humanos são imperfeitos, até mesmo o homem do lado de fora do apartamento que joga lixo na rua. Quando era jovem, eu queria ser outra pessoa, qualquer pessoa, menos eu. Dr.Bernard Hazelhof disse que se eu estivesse em uma ilha deserta eu teria que me acostumar comigo mesmo. Ele disse que eu teria que aceitar os meus defeitos e tudo mais, e que nós não escolhemos nossos defeitos. Eles são uma parte de nós e temos de viver com eles. Podemos no entanto escolher nossos amigos e estou feliz por ter escolhido você. A vida de todo mundo, são como calçadas muito longas. Algumas são bem pavimentadas, outras são como a minha, tem rachaduras, cascas de banana e guimbas de cigarro. Espero que um dia nossas calçadas se encontrem. Você é minha melhor amiga. Você é minha única amiga. Seu amigo de correspondência americano, Max Jerry Horowitz.”

Já indiquei este filme pelo meu facebook umas três vezes que me lembre. O mais legal é que as pessoas depois mandavam e-mails agradecendo pela dica. Com um filme como esse, não era difícil de se esperar! O filme é cativante e tem uma aparência fofa e infantil mesmo não sendo recomendado para este público.

Feito todo em stop-motion (ou ‘massinha’ para quem preferir chamar assim) é um filme que não canso de assistir. A massinha é feita de um jeito simplificado, diferente das super produções de Tim Burton feitas com o mesmo método. O filme tem uma paleta desbotada e um pouco sombria, que embala a vida pouco interessante dos personagens. Poucas cores surgem além do branco, bege e preto. Por exemplo o vermelho é responsável por dar contraste aparecendo nas línguas e bocas dos personagens de vez em quando. No caso de Mary, predomina uma paleta marrom e bege. No caso de Max, tons de cinza.

Mary é uma menina australiana solitária que constrói seus próprios brinquedos de maneira muito criativa e cativante. Talvez a amargura da menina seja reflexo de sua mãe, totalmente “complicada” (alcoólatra, babaca, cleptomaníaca e egoísta) e para piorar tem um pai ausente. Na escola as crianças tiram sarro dela, que tem uma mancha de nascença na testa e o cabelo cortado pelo pai por causa das paranóias da mãe. Quando a professora fala que ela devia sorrir mais, a mãe resolve o problema de maneira nada inteligente (como ela própria): pintando um sorriso no rosto da menina com batom vermelho. Reafirmamos assim a total falta de atenção como ela é tratada.

Max é um adulto nova-iorquino que assiste ao mesmo desenho que Mary, enquanto caça moscas para alimentar seu peixe. Peixe este, que assim que morrer será substituido por outro igual, e assim sucessivamente. Ele sofre de um transtorno de ansiedade extremo (síndrome de Asperger) e acha as pessoas e seus sinais muito confusos. Além de ter uma serie de manias, ele ainda sofre com a obesidade e faz parte do grupo de comedores compulsivos anônimos.

Um dia, Mary escreve uma carta para um estranho que mora nos Estados Unidos (sorteando um nome na lista telefônica), enviando ainda um desenho de seu galo de estimação e uma barra de chocolate. A pergunta que não quer calar é: de onde vem os bebês nos Estados Unidos? Será que vem da coca-cola? Ah, esqueci de citar. Ela tem 8 anos e ele 44. Com a carta, Max vê a oportunidade de falar sobre si mesmo e puxar uma série de assuntos, resultando em uma longa carta sobre toda sua vida. Ele responde a questão sobre os bebês da seguinte forma amarga: “infelizmente, nos EUA, bebês não vêm de latas de coca-cola. Eu perguntei para minha mãe uma vez quando tinha 4 anos e ela disse que eles vêm de ovos chocados por rabinos. Se você não é judeu, os ovos são chocados por freiras católicas. Se você é ateu, são chocados por prostitutas solitárias e imundas.” Então conta todos empregos que teve, seu peso, sua relação com a religião e o judaísmo e muito, muito, muito mais. Por fim ele agradece o chocolate e diz que vai experimentar o prato favorito da menina: leite condensado. Ah, e a pergunta que ele deixou para ela foi: você tem um canguru de estimação? É com estas cartas que vai surgindo a amizade entre os dois, deixando-os menos solitários e ao mesmo tempo livres para contar suas angústias e questionamentos.

O que de início cativa pela fofura da produção e dos personagens, vai tomando rumos obscuros e tristes. O filme na realidade trata de alcoolismo, depressão, solidão, obesidade, preconceito, bullying, morte e aceitação. Como mostra o filme, problemas que afetam pessoas de todas as idades, seja direta ou indiretamente (mãe alcoólatra, por exemplo). As falas e cartas são brilhantes, aliadas a uma produção incrível, e o resultado não poderia ser outro: o filme é encantador!

Para fechar bem o post quero avisar que a história é baseada em fatos reais. Ela é baseada em um correspondente em NY que o roteirista e diretor australiano Adam Elliot teve por vinte anos. Ele tinha a síndrome de Asperger, era judeu e fazia parte do “comedores compulsivos anônimos” também.

“Pessoas gostam de acreditar em Deus porque responde uma série de perguntas complicadas, como ‘de onde vem o universo?’, ‘minhocas vão para o céu?’ e ‘por que velhinhas têm cabelo azul?'”

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Nome: Mary e Max: Uma Amizade Diferente (IMDB)
Gênero: Drama, comédia, animação. Duração: 92 min. País: Austrália.
Lançamento: 16/04/2010.
Diretor: Adam Elliot. Roteirista: Adam Elliot.
Elenco: Toni Collette, Philip Seymour Hoffman, Eric Bana.
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