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República Estudante na Alemanha


24/mar/2015 | Anielle Casagrande |

Decidi contar um pouco sobre como é morar em uma república estudante, porque esta foi uma das melhores experiências da minha vida toda. Além do ambiente descontraído, jovem e regado a cerveja, também foi lá que peguei essa minha mania maluca de sair doando ou presenteando as coisas. Quando você mora por um ano em uma república enorme cheia de minúsculos apartamentos, você acaba praticando o desapego na marra. Além da falta de espaço, você percebe que assim como você, há muitos outros estudantes sem família e sem forno ou secador de cabelo morando ali. Antes de tudo, confiram onde era meu apartamento na foto abaixo. Que saudades do meu WG alemão :D!

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Mas o que é WG?

WG quer dizer Wohngemeinschaft e é um prédio com vários moradores. Esse onde morei – Studentenstadt Freimann, em Munique – é uma república estudante que começou a ser construída nos anos 60. Hoje são 14 prédios e lá moram cerca de 2.500 estudantes. É tão grande que parece mais uma cidade, com mercado, academia, loja de bebidas, restaurantes e muitos bares. Em cada andar de cada prédio também havia uma área comum, onde os moradores se encontravam para beber cerveja e ver tv. Eu morei no maior prédio de todos, o famoso Grande Verde, onde havia 20 andares repletos de apartamentos individuais, com quarto, banheiro e cozinha. Havia também três elevadores que eram sempre uma loucura. As pessoas entravam neles com rádio, violão, bebidas, colchões e tudo mais que a imaginação permitisse, afinal era o meio mais rápido de conhecer pessoas e fazer uma festa ali mesmo! No terraço do meu prédio funcionava um bar ao ar livre que abria apenas no verão. No penúltimo andar tinha o meu bar favorito, que tocava geralmente rock e tinha cerveja barata. Entenderam a atmosfera desse WG? bigsmile

Como havia muita gente e a minoria era alemã, as pessoas acabavam deixando para trás quase todas suas coisas antes de ir embora. E claro que sempre tinha alguém chegando e alguém indo embora. Então imaginem como era: os corredores viviam cheios de coisas e todos eram livres para pegar ou deixar coisas. Um verdadeiro festival de cacarecos de todo tipo, incluindo diversas esquisitices, como as duas caixas que achei certa vez. Explico!

A história das duas caixas

Além de varal, forno elétrico, aspirador, panela elétrica, tintas, copos, taças etc, eu resgatei do corredor duas caixas inusitadas. Nos dois casos eram caixas cheias e muito pesadas. A primeira era uma caixa com uma pequena (mas incrível) coleção de CDs. Eu queria ter conhecido o dono dela, porque ele deixou um CD dos Smiths e até o do Trainspotting para trás! Peguei apenas estes dois e devolvi a caixa, já que não podia acumular peso mesmo. Já sobre segunda caixa, foi mais misterioso ainda. Encontrei esta caixa de sabão que estava há algumas horas ali e ninguém havia pego. Vi ela quando sai para aula bem cedinho e resgatei na volta, no final da tarde. Quando abri em casa, percebi que era um cofre repleto de moedas de Euro. Imagino a tristeza do dono ao abandonar a caixinha no corredor, já que era extremamente pesada e ele devia estar retornando para seu país. Levei ao banco e me informaram que havia cinquenta euros em moedas ali. Em seguida depositaram na minha conta!

Os nomes das ruas

A parte mais interessante deste post para mim é esta. Só depois de voltar ao Brasil e começar a ler sobre o Rosa Branca que fiz a ligação entre os fatos. O Rosa Branca era um grupo de resistência antinazista formado em Munique por estudantes universitários em 1942, responsável pela impressão e distribuição de alguns panfletos contra o social nacionalismo. Infelizmente os principais estudantes foram assassinados na guilhotina em 22 de fevereiro de 1943. No StuSta (local onde morei) os nomes das ruas são em homenagem a eles: Willi Graf Straße, Hans-Leipelt Straße e Christoph Probst Straße. Dá pra ler os nomes na foto no início do post. Este assunto me deixou sem dormir por dias. Admiro a coragem deles e concordo que é papel dos estudantes estarem bem-informados e questionaren o governo, especialmente contra violência.

Leia mais sobre o Rosa Branca na BBC

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Meu WG ficava do lado, praticamente dentro, do Englischer Garten (Jardim Inglês), que é um dos maiores parques abertos do mundo todo. Confiram como era a sensação neste parque, que vivia lotado mesmo no inverno com os lagos congelados:


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